Setembro, mês da visibilidade da comunidade surda, chama atenção para necessidade de inclusão, acessibilidade, promoção da igualdade de direitos e oportunidade para todos. No Senac, instituição que capacita pessoas para o mercado de trabalho, são muitas as histórias de quem busca no ensino profissionalizante uma oportunidade de desenvolvimento pessoal e profissional.
O rosto de Letícia Alves Santos, 30 anos, transparecia puro contentamento por participar da oficina de gastronomia na unidade do Senac de Tobias Barreto, durante a realização do projeto “Invista em você: faça Senac”. Com o auxílio da intérprete da Libras, Maísa Viana, a aluna do curso de Designer de sobrancelhas e que tem deficiência auditiva, ampliou as possibilidades de enveredar por outras áreas de aprendizado e oportunidades no mercado de trabalho.
“Estou conseguindo aprender bem, pois a professora é muito minuciosa, explica todos os processos, os materiais, a higienização. A presença do intérprete é fundamental para que eu consiga aprender tudo, faz parte da inclusão dentro do ambiente de aprendizagem e me ajuda a interagir com os colegas”, declarou ela.
Histórias como a de Letícia se repetem no Centro de Educação Profissional (CEP) do Senac em Aracaju, onde ela fez anteriormente o curso de Manicure e Pedicure, com a colega também deficiente auditiva, Maria Gazielle Santos.
“Nós, surdos, temos uma barreira comunicacional, mas somos tão capazes de aprender qualquer ofício, e sermos bons profissionais, como qualquer outra pessoa”, destacou Maria Grazielle.
Samyra dos Santos Nunes está concluindo o curso de Técnico em Gastronomia ofertado pela Unidade Aracaju. Em todas as aulas, pelo período de um ano, os intérpretes de Libras do Senac Sergipe, Lucas da Paz e Luciano Nascimento se revezaram, garantindo que a futura profissional assimilasse todo aprendizado teórico e prático da capacitação.
“Ano passado fiz o curso de preparo de bolos e tortas, com todo o acompanhamento dos intérpretes. Quando soube do curso Técnico em Gastronomia, resolvi fazer, pois é uma área que gosto muito e quero empreender. E foi muito bom finalizar o curso”, destacou Samyra.
Aluna da Aprendizagem em Serviços Administrativos, por meio de convênio com o Instituto João Carlos Paes Mendonça (IJCPM), Stefany da Silva Carvalho, também deficiente auditiva, é só sorriso com a oportunidade de ser Jovem Aprendiz.
“O curso de aprendizagem está sendo muito bom. Além do conhecimento, tenho feito amigos, aprendido sobre cultura e tido a oportunidade de fazer atividades diferentes, como produzir vídeos para a apresentação de trabalhos.”
Além dos dois intérpretes de Libras, Lucas da Paz e Luciano Nascimento, o Senac Sergipe possui um instrutor de Libras, Leonardo de Jesus Lima, que é surdo e integra o corpo docente da instituição há 11 anos.
“A Libras foi reconhecida como língua oficial do Brasil há 22 anos, mas muitas pessoas não conhecem essa lei. Em diversas situações, como ir ao médico ou ao banco, existem barreiras para quem é surdo. Já vencemos algumas desde a aprovação da lei, mas há muito ainda a ser feito”, ressaltou Leonardo, referindo-se à Lei N° 10.436, de 24 de abril de 2002.
Ter intérprete de Libras no ambiente escolar é garantir a inclusão de alunos surdos ou com dificuldades auditivas. O intérprete permite aos alunos participação ativa nas atividades, compreensão dos conteúdos e garantia das mesmas oportunidades de aprendizado e interação, além de contribuir para a formação de uma cultura de respeito e valorização das diferentes formas de comunicação.
Para a analista do Núcleo de Promoção e Relações com Egressos (NPRE), Sílvia Conceição, o acolhimento a pessoas surdas ou com deficiência auditiva é uma tarefa de grande importância e muita responsabilidade, pois envolve várias etapas.
“Da recepção à finalização do curso são muitos, e distintos, momentos. No acolhimento buscamos estabelecer um vínculo com o aluno, fornecendo as informações sobre o curso, os recursos e suportes disponíveis, a exemplo do intérprete de libras, profissional fundamental para a promoção de uma educação inclusiva e que o acompanhará durante todo o curso. Da mesma forma, no encerramento do curso, nos colocamos como um canal de comunicação para o que o necessitar. Dessa forma, garantimos que esses alunos se sintam acolhidos, bem vindos, compreendidos e plenamente integrados no ambiente educacional”, declarou.
De acordo com a gerente do NPRE, Marileide Martins, de janeiro a agosto de 2024, 61 alunos com deficiências auditivas foram matriculados em cursos de formação inicial e continuada, assim como em cursos técnicos.
“A maioria ingressa na escola através do Programa de Acessibilidade, muitos deles têm uma isenção de 100% em um curso de formação inicial escolhido por ano (concessão limitada por turma), e uma isenção de 50% de desconto para os cursos técnico, além de conceder 50% de desconto a partir do segundo curso. Assim, o Senac Sergipe, comprometido com sua missão de educar para o trabalho, de forma inovadora e inclusiva, promove através de suas ações a valorização da inclusão e acessibilidade com qualidade e equidade, no resgate do exercício da cidadania e, consequentemente, melhoria da qualidade de vida, busca fortalecê-los por meio da qualificação profissional para ampliar as possibilidades de inserção ao mercado de trabalho”.
O Sistema S do Comércio é composto pela Fecomércio, Sesc, Senac e Instituto Fecomércio em Sergipe. A entidade é filiada à Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que está sob o comando de José Roberto Tadros.