A acessibilidade é um princípio fundamental da cidadania, para garantir a todos os indivíduos inclusão e igualdade de direitos. No que diz respeito à gastronomia, os bares e restaurantes precisam se adaptar aos clientes que possuem alguma deficiência visual, para que eles também possam desfrutar da experiência. Dessa forma, o cardápio em Braille se mostra indispensável.
Mas esse não foi o cenário encontrado por alunos do curso de Garçom 2023, do Senac Sergipe, ao realizar uma pesquisa para o Projeto Integrador, atividade realizada ao final da formação que cria um diálogo entre a sala de aula e a realidade do mundo do trabalho.
A pesquisa que foi desenvolvida com base, não só em referências bibliográficas, mas também por meio de visitas técnicas à restaurantes, hotéis e à Coordenadoria de Apoio Educacional as Pessoas com Deficiência (COEPD/ CAPE), revelou que o cardápio em Braille quase nunca é ofertado como opção nos restaurantes, a disponibilidade não chega a 1%.
“Esse encontro do Sistema S com o CAPE, é nada mais, nada menos do que o exercício de cidadania. Você perceber que tem uma turma de jovens que pensou um pouco na pessoa com deficiência visual. Esses alunos pensaram, externalizaram esse sentimento e praticaram a inclusão”, diz a coordenadora do COEPD/ CAPE, Joana D´Arc Meireles.
Por isso, na execução do projeto, instruídos por Edelzio Santos, os alunos elaboraram dois cardápios em Braille. Agora, o Restaurante Escola e o Cacique Chá já possuem cardápios inclusivos. A iniciativa pretende estimular a outros estabelecimentos a seguirem o mesmo caminho.
“Nossa meta foi a acessibilidade das pessoas com deficiência. Nós não devemos tratar como coitados, são pessoas normais, seres humanos capazes, que querem acesso ao que tem por direito. Então, nós fizemos pesquisas e visitas técnicas no CAPE. Foi maravilhoso, inclusive para nossa vida pessoal, já que hoje tenho uma visão diferente sobre o tema”, aponta o aluno do curso de garçom, Éder Matias, 45 anos.
Ao final da apresentação, a turma simulou o atendimento a duas pessoas com deficiência visual, convidadas do CAPE.
Robson Guidice, de 45 anos, perdeu a visão total ainda na adolescência, aos 15 anos. Hoje, advogado, é instrutor de informática no CAPE. Ele alertou durante a apresentação dos alunos, que a leitura em Braille é lenta e que demanda paciência.
“A confecção do cardápio em Braille, é de grande relevância. Mas existe um aspecto que vai um pouco além do cardápio em si, que é o atendimento desse garçom, dessa garçonete com essa pessoa com deficiência visual. O garçom deve desenvolver a paciência dinâmica, isto é, enquanto ele entrega o cardápio orienta o cliente cego a fazer o pedido. Ele pode ao mesmo tempo circular no ambiente, ainda prestando atenção na pessoa com deficiência visual para verificar se ele já fez sua escolha”, afirma Robson.
PSG
O diretor regional adjunto do Senac, Manoel Leal, esteve presente durante a apresentação, desejou boa sorte aos alunos e pediu que replicassem os aprendizados no mercado de trabalho. Além disso, exaltou o trabalho do Senac para a formação profissional, principalmente, através do Programa Senac de Gratuidade (PSG), que são os cursos gratuitos. Programa este, que possibilitou a realização da turma de garçom.
“O PSG tem como foco a promoção da inclusão social por meio da oferta de vagas gratuitas em cursos de educação profissional, aprendizagem, formação inicial e nível técnico. É mais oportunidade de qualificação e maiores chances no mercado de trabalho para jovens”, “conta o diretor.
O Programa Senac de Gratuidade (PSG) destina-se a pessoas com renda familiar per capta de até dois salários mínimos, que sejam alunos matriculados ou egressos da Educação Básica e trabalhadores – empregados ou desempregados. São priorizados aqueles que satisfizerem as duas condições: aluno e trabalhador.
O Sistema S do Comércio é composto pela Fecomércio, Sesc, Senac e Instituto Fecomércio em Sergipe. Presidida por Marcos Andrade, a entidade é filiada à Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que está sob o comando de José Roberto Tadros.